Curadoria
Casa Madre
A curadoria da Casa Madre foi pensada como se montássemos uma casa habitada: com cuidado, escuta e trocas. Construída em diálogo entre a curadora e Gabriel Magalhães, arquiteto responsável pelo ambiente, partiu do desejo comum de destacar a presença de mulheres artistas, um gesto simbólico e sensível, alinhado à essência do projeto.
Localizada no antigo Colégio das Mercês, onde, no passado, meninas eram educadas para uma vida à parte do casamento e do protagonismo público, a Casa Madre acolhe agora outra mulher: não a que foi silenciada, mas a que escolheu viver à sua maneira. Vivenciando a construção do conceito desde o início, a curadoria se ergue como se essa mulher existisse de fato — uma personagem real e imaginária, que habita o espaço com liberdade e contradição. Ela não precisa ser definida. É presença. É escuta. É memória viva.
As escolhas de obras misturam acervos pessoais, peças garimpadas em moldurarias e antiquários, criações autorais e gestos íntimos, além de novos trabalhos vindos de espaços de arte diversos e artistas da cena contemporânea baiana. Porque essa mulher é isso: múltipla, curiosa, colecionadora da vida. A seleção costura o vivido e o imaginado, o tempo do agora e o que insiste em permanecer.
A casa aqui é corpo: abriga, sente, pulsa. E a arte é extensão dessa pele que acolhe e provoca.
As presenças femininas que atravessam o espaço são diversas, espirituais, subjetivas, delicadas e potentes. Algumas vêm em segundo plano, porque é assim que a história as colocou. Outras já ocupam o centro da cena. Todas falam de tempo, silêncio, permanência e reinvenção.
Esta curadoria marca o meu primeiro trabalho como curadora de arte e nasce do gesto de olhar com atenção: para a imagem, para a artista, para o espaço, para quem veio antes e para quem ainda virá. Como toda casa feita para durar, não pelo que exibe, mas pelo que sustenta.